domingo, 13 de setembro de 2009

Depoimento de presas que trabalham.

"Não estou aqui para ser explorada"
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FÁTIMA FERNANDESCLÁUDIA ROLLIda Folha de S.Paulo "Estou aqui para pagar por um erro, não para ser explorada", afirma L., 29, que cumpre pena na Penitenciária Feminina da Capital (zona norte de SP).L. trabalha das 8h30 às 16h30, de segunda a sexta-feira, para uma empresa que faz peças plásticas para injeção de soro em um galpão na penitenciária."Recebo R$ 170 por mês. É pouco. Não dá para ganhar menos do que um salário mínimo. Os produtos custam caro lá fora", afirma a presidiária.Algumas empresas instaladas nos presídios remuneram as presas por produtividade, o que é permitido pela resolução nº 14, de 18 de fevereiro de 2003, da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária.Se elas recebem menos do que um salário mínimo, é porque os empresários entendem que não atingiram a produção máxima no período de um mês.Esse critério, na avaliação de L. e de outras colegas que fazem o mesmo serviço, é subjetivo."O custo dos produtos lá fora é muito alto", afirma Ana Fabíola dos Santos Martins, 29, que cumpre pena por uso de drogas.As presas querem trabalhar, mas argumentam que precisam ser mais bem remuneradas. Mais do que isso. Gostariam de ter a garantia de que terão uma oportunidade no mercado de trabalho assim que deixarem a penitenciária."Eles não querem saber da gente. Não adianta sair para procurar emprego porque a sociedade não dá oportunidade para ex-presidiários. Pedem atestado de antecedentes criminais e não contratam", diz Cristina Dias, 35, presa desde 2002 por tráfico de drogas. Ela pretende comprar uma máquina de costura para fazer enxovais de bebê e espera sair da prisão ainda neste ano.Presa há sete anos por assalto a mão armada, Simone Santos Silva, 31, tem a mesma opinião. "Ganhamos o mínimo. E o mínimo já diz tudo, não é? Lógico que o salário precisa ser melhor, mas o que me interessa mesmo é conseguir emprego lá fora." Há cinco meses, Simone trabalha em uma empresa que fabrica rodízios para móveis.Uma funcionária da empresa acompanha e treina o trabalho de um grupo formado por cerca de 15 detentas.S., 47, presa no aeroporto de Madri, na Espanha, com drogas, e que acaba de ser transferida para São Paulo, afirma que "o presidiário precisa de um salário digno. Fiquei presa quatro anos em Madri. Aguardo a transferência da papelada para sair daqui. Quero trabalhar", afirma.Adriana da Silva, 35, que cumpre pena há três anos por roubo em um supermercado, tem o mesmo desejo. "Quero uma oportunidade lá fora", diz Adriana, que corta cerca de dez quilos de fios por dia para confecção de tapetes e almofadas para uma empresa de São Paulo.A presidiária conta que já conseguiu guardar "algum dinheiro" --não tem idéia de quanto-- porque há três anos trabalha para empresas na penitenciária. Divide o dinheiro que recebe, R$ 300, a partir deste mês, entre poupança, gastos com remédios e família.Mesmo reconhecendo que o salário é baixo, Ana Cláudia, 32, presa há quatro anos por ter participado de um seqüestro, diz que se sente "feliz" por poder trabalhar. "Se a gente não trabalhar, sai daqui pior do que entrou. E, mais do que o salário, o importante é crescer, nunca regredir."

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