quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Desabafo de um detento.

Desabafo de um detento
É quase impossível uma criança crescer num bairro da periferia sem ter contato com o crime, pois o crime está em toda à parte. Na mídia, no senado e na mente das pessoas. Mas os mais prejudicados são das classes desfavorecidas.
CLASSE DESFAVORECIDA
Por Robson Lima Araújo
Presídio de Potim/SP
O decadente retrato da justiça pública é o resultado da má distribuição de renda, corrupção e centralização da maior parte do capital nas mãos de pessoas que agem de má fé e possuem um único deus chamado dinheiro, deixando de lado a responsabilidade e solidariedade com o próximo. Na minha opinião, isso gera um índice bem alto de criminalidade e violência misturando com uma dose de miséria e revolta, provocando um efeito colateral no sistema.
Eu cresci vendo minha família sendo oprimida pelo sistema, meus pais não tinham instrução nenhuma por isso havia dificuldade de emprego e morávamos de aluguel.
Comecei a trabalhar cedo para ajudar minha mãe que é manicure e faxineira, era de onde vinha o dinheiro para o aluguel e despesas básicas. Era difícil encontrar tempo para lazer e diversão que são básicos fatores na infância e adolescência.
Quando fiz 16 anos eu estudava e trabalhava em uma multinacional por uma firma terceirizada e fazia vários cursos no final de semana como computação, auxiliar administrativo, eletricista e outros. Quando completei 18 anos já tinha terminado o 20 grau, mas havia terminado o contrato com a firma por causa do alistamento militar. Até então a minha mãe tinha orgulho de me ver conquistando muito dos meus objetivos. Mas ela não esperava que, com o desemprego, com um grande número de pessoas desesperadas na cidade a procura de emprego pudesse acabar num desequilíbrio onde os jovens acabam se envolvendo muito cedo com drogas pesadas, muitas vezes para fugir dos problemas do mundo real ou por curiosidade, influência, encorajamento, etc.
Quando meu irmão foi preso, isso mexeu com a estrutura da nossa família e então começamos a enxergar que o sistema penitenciário não regenera, mas ensina que o mundo é uma floresta acumulada de ódio, desgosto e sentimento de revolta trazendo maus espíritos para o corpo de pessoas que podem até se transformar em psicopatas.
É quase impossível uma criança crescer num bairro da periferia sem ter contato com o crime, pois o crime está em toda à parte. Na mídia, no senado e na mente das pessoas. Mas os prejudicados são das classes desfavorecidas.
Carta do detento: Robson Lima Araújo - do Presídio de Potim/ Aparecida do Norte, São Paulo

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